quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Quem aposta no coração?

Quando eu soube que a Rede Record estrearia uma novela sobre mutantes, fiquei feliz. Depois fiquei triste. Depois fiquei feliz de novo. E depois, fiquei na dúvida. Mas por quê? Bom, já sabemos que o tema da mutação já foi demasiadamente tratato, nos filmes X-Men, Super Escola de Heróis, no seriado Heroes, enfim.

Sim, mas nós, brasileiros, precisamos ousar também! Por que não? É assim que se aprende a escrever sobre temas aqui inéditos: na prática!

Vendo alguns pôsteres da novela, comecei a gostar da idéia (mesmo sabendo que fazer uma imagem do tipo não é difícil). Pensei em apostar as fichas pra saber que rumo o tema tomaria dentro de uma novela - produto audiovisual que depende do ibope pra avançar ou retardar o enredo (isto quando não ocorre o absurdo de mudar o diretor no meio dela). Mas e aí?

Caminhos do Coração, do autor Tiago Santiago e direção de Alexandre Avancini estreou nesta terça-feira, dia 28 de agosto.

Vamos começar uma análise, bem resumida, pra não se estender tanto:

INÍCIO: terraço de um prédio do Guarujá, São Paulo. Neo e Morfeu são da Polícia Federal e conversam com alguns dos seus companheiros. Sim, Neo e Morfeu, de Matrix. Ou quase isso. Leonardo Vieira is Neo. E está com seu parceiro, um cara idêntico a Morfeu, com o jeito de Morfeu e com o design dos óculos escuros igual aos de Morfeu. Ambos com fardas pretas, da PF. Eles conversam sobre um plano:

OBJETIVO: roubar um valioso livro do vilão chamado Figueroa, um coroa rico.

METODOLOGIA: Eles irão voar de helicóptero até o prédio de Figueroa e planar sobre ele. Daí Neo-nardo-Vieira descerá pela corda, enfrentará os agentes de Figueroa, entrará em seu escritório, desativará o sistema do cofre e pegará o livro. O plano é esse.

Daí, Neo pergunta: "Mas será que o Figueroa não irá perceber isto?"
E Morfeu responde, com seu ar imponente e esperto, típico do mentor de Matrix: "Figueroa não irá perceber porque quando nosso helicóptero estiver planando sobre o prédio, porque um carro irá explodir na frente dele. E isso irá distrair Figueroa, enquanto você desce de corda pro terraço".

Ok...

Daí o plano inicia e tal... e quando o carro explode lá na frente, Figueroa, que tava dentro do prédio, curtindo ao lado de duas gatas, sai na rua e diz mais ou menos assim: "Céus! Explodiram o carro do segurança! Que horror... mas... peraí... o que é que aquele helicóptero está fazendo ali em cima?? Ei, é uma armadilha! Atrás deles, pessoal!!!"

FALA SÉRIOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!

Tinha jeito mais absurdo de planejar um roubo de um livro??! Daí Neo-nardo-Vieira, que interpreta Marcelo (meu xará, droga!) sai lutando pelo caminho com os agentes de Figueroa... faz umas lutas bestas, pega o livro, é abordado pelo vilão... e aí, rola o diálogo mestre:

NEO: "Figueroa, você perdeu".
FIGUEROA: "Eu nunca perco. Eu sempre venço".

Ok. He-man Vs Esqueleto.

Bom, mas essa é a parte dos policiais. Vamos à parte dos mutantes, que é mais divertida ainda:

A primeira mutante que aparece é a garota Tati, filha de Neo-Vieira. Ela tem telecinésia - mexe as coisas com a mente - vide Jean Grey. Ela está na sala ao lado da mãe, e tenta mexer um ovo sobre a mesa, usando seu poder. Ela consegue levitar o ovo (efeito ótimo, sério mesmo!), daí ele cai e se espatifa no chão.

TATI: "Desculpa, mãe... eu não consigo controlar"...
MÃE: "Tudo bem, filhinha..."
TATI: "Mãe, porque eu sou diferente"?
MÃE: "Ah, sei lá, é normal... tipo, você tem um dom, que é uma coisa que ninguém tem..."
TATI: "Uma maldição!!!"

Os diálogos são surreais. Os roteiristas estão entregando o peixe inteiro de vez! Foram mostrados vários mutantes no 1º capítulo, e todos eles parecem contar pra todo mundo o que ocorre com eles. Tudo bem que com os que são crianças, isso era de se esperar... Mas tem um personagem adulto (uns 22 anos) que tem o poder de ler os pensamentos... Numa única cena ele lê os pensamentos dos seus familiares e na mesma hora que lê, denuncia a pessoa! E todos respondem: "Pare de fazer isso Fulano, pare de ler minha mente, você faz isso desde pequeno!". Esse tipo de "denúncia" de poder ocorreu com todos os mutantes mostrados.

O que mais me incomodou foi o argumento da cientista que diz ter iniciado o experimento da mutação na clínica que trabalha. Sem demonstrar nenhum teor científico, nenhum domínio sobre o conteúdo que dizia, ela falou que fez o experimento porque queria "melhorar os humanos". E disse APENAS ISSO!!! Não informou nenhum dado, nenhuma teoria ou estatística, nenhum número!!!

"Melhorar os humanos?" Transformar gente em lobisomem? Colocar asas de pássaro nas costas? Dar olhos de águia a uma criança? Mas a melhor parte é: ela afirmou ter misturado gens humanos com os de animais... Agora pensem: qual é o animal que lê os pensamentos dos outros mesmo??! Coelho? Girafa?...

Todos os diálogos são completamente mastigados. Parece que desconfiam da inteligência dos telespectadores... Tudo bem que o público-alvo de uma novela, em geral, é bem diferente de um público que assiste a seriados, que é mais paciente, que procura investigar a trama enquanto ela acontece, e não apenas joga as pernas pro ar no sofá e recebe a lufada de imagens lavadas e nuas.

Mas talvez eles não saibam escrever mesmo... Já estão contando o argumento inteiro de vez... Fico me perguntando qual será a trama verdadeira, ou os ápices dela.

E aí? Vamos aguardar...

Por enquanto, dou nota 10 apenas pros efeitos especiais. A cena do garoto The Flash correndo a mil por hora na estrada de barro ficou muito bacana. A da garota levitando o ovo também. Até os pulinhos básicos do garoto lobisomem.

Não quero nem falar muito sobre o título "Caminhos do Coração"... Talvez isso seja pra salvar a novela, caso o ibope esteja baixo e eles queiram eliminar os mutantes, transformando a obra num caso de amor, com direito a casamento no final.

Detalhe no pôster ao lado, do cara que lê os pensamentos... Olhem a expressão psicopata de "Eu vou ler a sua mente"...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Sou fã dos bonecos estranhos!

Sou fanático por bonecos de ação. Coleciono-os desde que me entendo por gente (e isso faz muito tempo). Sempre apreciei os bonecos mais criativos e inovadores, independente do personagem, da história, desenho ou filme do qual foi extraído, independente da marca e da qualidade de produção. Claro que estes são elementos fundamentais pra que o boneco seja mais rico em detalhes e tal, mas o que aprecio mesmo é a originalidade. Tendo a gostar dos mais estranhões, dos mais diferentes. Daqueles que as pessoas menos compram, porque acham feiosos (a maioria delas, porque já encontrei gente que pensa igual a mim).

Um exemplo é que vi o boneco do desenho Ben 10, o Ultra T, sendo vendido como surpresa do Mc Lanche feliz, e o curti na hora! Até então, tinha ouvido alguém mencionar Ben 10, mas nem ligava (continuo não ligando, aliás). Achei o boneco interessante, pesquisei sobre ele, descobri que em inglês seu nome é Upgrade e li que o personagem é um alien formado de metal líquido, capaz de invadir sistemas ou aparelhos high-tech e alterá-los, fazendo upgrades quando deseja. Sua aparência é bem estranha, parece um monstro de piche incolor-fumê se derretendo, com um daqueles capacetes macabros de mergulhador das trevas. Pois é, o layout me agradou e pronto. Comprei o Ultra T. Levo ele todo dia pro trabalho e ponho em cima do computador. E ele me observa trabalhar, com seu monóculo (acho que é um olho o círculo verde que está na cabeça dele).

O chato é que ele substituiu outro boneco que estava há tempos em cima do computador do meu trabalho, o Slotsky. Slot é um xodó de infância. Se não me engano, o comprei quando tinha 10 anos de idade. Tinha ganho dinheiro para comemorar meu aniversário. Fui ao shopping com 4 amigos e compramos todos os vilões da série Power Rangers da época (Olhando assim, nem parece! Power Rangers passa até hoje, com novas histórias e personagens... Só agora vejo que não mudou muita coisa, mas sei que na época eu curtia).


Sobre o Slotsky, eu nunca cheguei a vê-lo num episódio dos Rangers, mas sei que lá nas Lojas Americanas ele foi o primeiro que escolhi, justamente por ser o mais diferente de todos. Em seriados como os Changeman, Flashman, e por conseguinte, Power Rangers, o vilão principal do grupo costumava mandar os seus servos mágicos (Guioday, Medusã, enfim...), criarem os monstros. Eles aplicavam um feitiço numa criatura ou objeto da Terra, este ganhava vida e saía para passear, destruindo a cidade. E o Slotsky, pelo que se vê, nasceu de uma máquina de caça-níquel! Perfeição!

O boneco é bacana: em seu peito tem uma roleta que gira exibindo ícones de sorte e azar, quando a alavanca na lateral é baixada. O seu chapéu com o letreiro "Gold Rush" (Investida de Ouro) também gira, mas de modo mais lento (é um pouco travado; sempre foi assim). Acho massa a cor dele, ferrugem, que até hoje mantém seu brilho. Em vez de mãos, ele tem um ganho no braço direito e um enorme e vermelho ímã em formato de "U" no esquerdo. Lembro que quando eu travava batalhas quando guri, eu fazia uma voz rouca e bricalhona para ele, como se 'destruir' fosse a sua maior diversão. O seu ímã não atraía apenas metais, mas tudo que ele desejava: bastava ele puxar a alavanca para saber o nível dos elementos que ele atrairia. Se tivesse azar, não atraía nada. Com sorte, atraía o que quisesse (era como o Duas-Caras fazia com a sua moeda).

Pois é, Slotsky está descansando em casa agora. Ultra T (ou Upgrade) é o novo guardião do computador, e está se saindo bem. Fica com um efeito legal, quando a luz do sol bate na janela e atravessa seu corpo fumê, ou quando se coloca uma lâmpada por trás; parece feito de água de pia, como dizem. É estranho, mas bonito. Ainda não pensei na voz dele. Acho que é porque ele não tem boca...

Ah, falando em bonecos criativos, tem o detalhe da vez: uns imbecis brincaram de inovar: inseriram ímãs dentro dos cocôs do Tanner, o cãozinho da Barbie, para serem atraídos com a pá de lixo da boneca... E o que aconteceu depois? Deu merda! (por mais irônico que pareça...) Produtos deste tipo oferecem perigo às crianças. A Mattel Inc. está fazendo um recall imenso de produtos... 21,8 milhões de brinquedos em todo mundo... Fala sério...

De fato, a criatividade não é um dom de todos...

Poderiam fazer uma Barbie faxineira, que organiza os móveis na casa, limpa os objetos... ou uma Barbie gari, que recolhe o lixo, fazendo coleta seletiva... tudo isso é viável, e acaba sendo educativo... Mas... cocô-magnético?... Não, por favor.

Quem deram prejuízo também foram: as figuras magnéticas do Batman e a linha quase inteira da Polly... Em pensar que no Brasil, mais de 850 mil produtos foram comprados entre 2002 e 2007...

Te cuida, Mattel!!!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Paixão & Sabor em Ratatouille!

O pessoal do meu trabalho que desenvolve design e 3D tinha me indicado o filme Ratatouille, dizendo que ele era, até então, a melhor animação que a Disney/Pixar já tinha produzido, inclusive, melhor que "Procurando Nemo" e melhor também que "Os Incríveis". Bom, sendo Brad Bird, o diretor deste e de Os Incríveis, eu não pude deixar de ver.

Ratatouille não deixa a desejar.

"Um rato que é acidentalmente separado da sua colônia acaba parando no melhor restaurante de Paris e descobre que, mesmo sendo um roedor, ali é o lugar ideal para aperfeiçoar o seu maior dom: cozinhar". Embora algumas idéias parecidas já terem sido experimentadas, como em alguns episódios do “Tom & Jerry” e o filme “O Ratinho Encrenqueiro”, Ratatouille tenta passar algo diferente.

Mesmo sendo uma história à la Disney, com mensagens do tipo “Dê valor a si mesmo”, “Saiba ser recíproco numa amizade”, “Às vezes devemos seguir em frente e não temer os problemas”, etc., o filme se sustenta, dosando suas piadas e a hora da 'conversa séria'. Por baixo da cortina, ele acaba trazendo algumas questões de preconceito, mostrando que classes menos favorecidas às vezes se esforçam para agradar ou fazer parte das mais favorecidas, e de alguma forma elas sofrem nestas tentativas, pois sabem que são vistas de cima; são cientes de que, mesmo mostrando o seu interesse e empenho por algo superior, continuam sendo taxadas como menores, como inferiores. No filme isto é mostrado com o rato Remy, que tenta ajudar Linguini – um desastrado rapaz – a cozinhar, para que este se suceda no restaurante onde foi contratado. Linguini, a priori, se sente enojado com a idéia de um rato auxiliando-o na cozinha. Com o tempo ele até se acostuma, mas depois há um momento em que ele reavalia a situação, quando o rato "declina" à sua condição de roedor (claro que aqui estamos falando de seres humanos e ratos, mas a idéia-base é parecida).

Por outro lado, um ponto interessantíssimo do filme é a busca pela paixão. Ora, a história se passa em Paris, cidade do amor... Em várias cenas, quando o rato Remy está percorrendo as ruas da cidade, vemos inúmeros casais no exato momento em que o homem está cortejando a mulher, mostrando o início de uma relação, de uma paixão. Tem até uma cena hilária, digna de novela mexicana (ou seria francesa mesmo?): uma mulher com um revólver na mão ameaça atirar num rapaz, enquanto discute com ele. A arma dispara, mas o tiro pega no teto, quase atingindo Remy, que assiste a cena de cima. Logo após o tiro, a mulher abraça o rapaz e eles se beijam.

Os roteiristas não foram tão óbvios em colocar uma ratinha para fazer par com o rato Remy no filme. A paixão do protagonista está no seu dom de cozinhar. A primeira cena em que mostra o rato falando com o irmão sobre os sabores que sente ao provar cada comida faz parecer que o mundo desaparece quando ele está comendo. Tudo em volta se escurece e suas sensações são ilustradas com luzes coloridas e fogos de artifício, que queimam com mais intensidade à medida que ele se delicia e os sabores se acentuam em seu paladar. Não é frescura nem gula do rato não... é paixão mesmo! Ele busca aprender mais, ele se inspira no seu ídolo, que era o chef de cozinha do restaurante aonde chegou, ele arrisca a vida pelo que gosta, pelo que é apaixonado.

O filme é assim, preenchido de paixão, pontuado sutilmente aqui e ali...

Ah, e falando em paixão, fico de pé para aplaudir o conjunto das imagens do filme. Design, 3D, fotografia, iluminação, renderização, texturas, o diabo que for!

As ruas de Paris pareciam reais! Percebemos até a mudança do clima no filme (já que quase todas as histórias são nos EUA...). O pôr do sol é diferente, o amanhecer é diferente, é real! Tudo, aliás, parece real (com exceção dos personagens, cartunizados, obviamente...).

As comidas então, pareciam que foram recortadas digitalmente de um vídeo e sobrepostas na animação... Acho que os produtores passaram um bom tempo investindo em pesquisa, em texturas, em cores... devem ter comido bastante nesse processo também. Eu teria feito o mesmo. Ainda mais sendo comida francesa, oui!

Aprovo Ratatouiile! Não sei se é melhor que Nemo ou Os Incríveis, mas sei que ele tem um sabor diferente... Só falto comer agora; fiquei curioso quanto ao gosto do prato, mesmo sentindo, de longe, o sabor... Au revoir!